sábado, 27 de dezembro de 2008

Estudo no Livro Genesis - Capitulo 1.



O DEUS da Criação



Julio César Caldeira Costa[1]

SUMÁRIO: 1. Texto; 2. Introdução; 3. Quem é este DEUS? ; 4. A finalidade da criação; 5. A sua obra; 6. Conclusão; 7. Referências Bibliográficas.



Texto – Gn 1. 1-31.

1- NO princípio criou Deus os céus e a terra.
2 - E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
3 - E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
4 - E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
5 - E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.
6 - E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas.
7 - E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi.
8 - E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
9 - E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi.
10 - E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom.
11 - E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi.
12 - E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.
13 - E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.
14 - E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos.
15 - E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi.
16 - E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas.
17 - E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra,
18 - E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom.
19 - E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.
20 - E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.
21 - E Deus criou as grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.
22 - E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra.
23 - E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.
24 - E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado, e répteis e feras da terra conforme a sua espécie; e assim foi.
25 - E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.
26 - E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
27 - E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
28 - E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.
29 - E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento.
30 - E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi.
31 - E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.


Introdução.

Muitos quando lêem o texto ora destacado, não tem a dimensão, profundidade e a imensidão do Deus criador, já são de longas datas a falsa interpretação deste primeiro capitulo do livro de Gênesis. Tal dificuldade se dá pelas visões religiosas, falsas crenças e alguns mitos que envolvem a mente humana, pelas visões religiosas surgiram às religiões onde destacamos: 1 – Na visão teista – (DEUS fez tudo) Judaísmo, Cristianismo e Islamismo; 2 – Na visão Panteísta – (DEUS é tudo) Hinduismo, Confucionismo e Nova Era; 3 – Na visão Ateísta – (Não há DEUS) humanistas. Segue-se completamente nesta desordem em função do homem maravilhar-se mais com a criação do que o Criador admiram-se mais a criação, mesmo sendo para nós algo de se admirar, mas não mais do que o Criador, por trás da criação existe um Ser maior que é o Todo Poderoso, a Ele demos toda a gloria, e o louvor.

I – Quem é Este DEUS?

A maravilha da Criação é para toda a humanidade algo de curioso, pois até a data de hoje o homem, não conseguiu ter diante de si, pela sua própria concepção, uma tese que venha colocar em duvida a narrativa Mosaica da gênesis. Não consegue o homem, por mais que venha conjecturar a derrubar esta narrativa. Pois para primeiro falar da Criação precisa o homem conhecer o DEUS Criador, o DEUS que se revelou a Moisés e lhe deu o entendimento de toda a sua obra criadora.
O DEUS Criador é um DEUS universal e pessoal. Universal, pois todo o homem que seja do mais distante Continente, País, Cidade, Vilarejo ou localidade, sabe em seu intimo da existência de um DEUS, mesmo diante de sua crença que possa não alcançar a este DEUS, por desconhecer o verdadeiro caminho que se chega a ele, mas sabe da existência deste DEUS, por qualquer um dos argumentos da existência de DEUS, mas tem o homem dentro de si algo que o faz perguntar sobre algo sobrenatural, Na Grécia Antiga, criada por Aristóteles temos a Metafísica, aquilo que transcende o físico, alem matéria, esta busca deste vazio dentro do homem, nos prova que ele é universal. O Apostolo Paulo ao escrever a sua carta aos Romanos, ele nos afirma que o homem mesmo conhecendo a Gloria de DEUS preferiu dar gloria a si mesmo.
Uma dificuldade maior é que o homem confundiu o DEUS da criação com a sua criação, achando que a sua obra por ser de difícil compreensão para eles não consegue entender como o DEUS Criador colocou tudo para funcionar que a sua criação foi gradativa, ao longo de muitos anos, pois coloca a sua criação como maior que o próprio DEUS. Temos exemplos de alguns homens que seus inventos são maiores que a si próprio, como por exemplo, o inventor do avião, da roda, e outros inventos que suplantaram os seus idealizadores, mas poucos sabem do DEUS Criador, e por não saberem ficam a duvidar da sua capacidade de dominar este universo, e se por ventura tem condição de tomar conta deste mundo. Mas o DEUS Criador Ele é Maior que sua obra e não a confundimos Consigo Mesmo, mas entendemos que Ele é Maior, nesta prova de sua existência podemos falar de sua Transcendência, pois a palavra Transcendência nos afirma que Ele transcende a sua obra criadora, Ele é Maior que sua criação, e mesmo sabendo que Ele é Maior, pois pela sua Palavra Ele tudo Criou, ele participa de Sua Criação ele é Imanente, Ele está perto e pronto para ajudar. Ele é um Ser Pessoal, isto é, Ele é uma Pessoa, um Ser Perfeito, Ele não uma poeira cósmica, ou uma forma de civilização mais evoluída, pois antes da Criação só existia Ele, não havia mais nada somente Ele existia e pela única e exclusiva vontade Ele criou, poderia, se não quisesse criar nada e também não era obrigado a criar, mas criou pela sua própria vontade, assim o fez, utilizando o nada, no original do texto Hebraico temos a seguinte frase do versículo 1 do capitulo 1 do Livro de Gênesis:
בראשׂית ברא אלהים את השׂמים ואת הארץ - 1 – transliterado: “berê'shiyth bârâ' 'elohiym 'êth hashâmayim ve'êth hâ'ârets “. Sendo o verbo: Criar – bârâ no hebraico, aparece no AT somente vinculada à pessoa de DEUS, isto é, o criar atribuído é somente dado ao DEUS Criador, e Ele cria do vazio, do nada, de nenhuma substancia ou matéria existente, diferentemente do homem, pois o homem nada cria, somente pode transformar uma matéria ou substancia em outra matéria, em sua composição ou até separando as matérias. Antes do nada só existia o DEUS perfeito.

II – A finalidade da Criação.

O primeiro passo para o homem é tentar buscar o porquê da causa final da criação do universo. Aparentemente podemos analisar que estando o Senhor sozinho, poderia Ele está triste pela sua condição solitária, ou não tendo nada a fazer poderia estar entediado e ocioso com que fazer. Seria uma idéia pratica, mas o Ser de DEUS é completo, realizado e nada teria em seu interior que pudesse lhe faltar diferentemente do homem que por estar afastado de seu propósito original habita em seu interior o vazio, um sentimento de perda sem saber o que se perdeu, é a vontade de encontrar com sua origem.
A Criação foi um ato volitivo de DEUS, e o fez pela sua própria soberania, poderia se quisesse não te-lo feito, foi um ato de sua própria vontade, fez por que quis. Sem que alguém pudesse questioná-lo, ou tentasse Lhe dar alguns conselhos ou sugestões. O Salmista nos diz, no Salmo 135.6 “Tudo o que o Senhor quis, fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos”, o Profeta Isaias nos relata no seu livro Is 46.10 “Que anuncio o fim desde o principio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade”, Paulo escrevendo aos Efésios afirma: Ef 1.11 “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho de supra vontade.”. Não havia e não há algo que venha mudar a sua vontade desde o principio de sua criação tudo já está determinado.
Mesmo olhando a sua criação e tendo a todos nós admirados por tudo que Ele fez, da mesma forma que ao apreciarmos uma tela onde se encontra registrado a mais bela obra de um grande pintor e temos sempre a garantia de sua existência e a sua guarda para preservação, também afirmamos que o universo criado ele não é eterno, teve ele inicio consequentemente terá um fim este universo que hoje vemos e residimos, ele tem um fim previsto desde a sua criação, mostra-nos que a sua obra tem um propósito, Paulo na Carta aos Efésios no seu Cap. 3 verss. 9 e 11 e no Cap. 1. Vers. 4 da mesma carta recebeu do Espírito Santo esta revelação que o transcrevemos sucessivamente: “É demonstrar a todos qual seja a dispensação do ministério, que desde os séculos esteve oculto em DEUS, que tudo criou por meio de Jesus Cristo”; “Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor,” e “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fossemos santos irrepreensíveis diante dele em amor;” João na Ilha de Patmos teve a seguinte revelação e escreveu no Livro de Apocalipse Cap. 21 Vers. 1 “E vi um novo céu, e uma nova terra. Poque já o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe.” Este céu e esta terra terá o seu fim, novo céu e nova terra o Senhor nos dará.
Mas qual é o seu propósito de sua criação, por qual motivo DEUS fez o céu e a terra. No mesmo livro de João, em Apocalipse no Cap. 4 Vers. 11 ele nos afirma: “Digno és, Senhor, de receber gloria, e honra e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.” Moisés escreveu no Livro de Números cap. 14 vers. 21 “Porém, tão certamente como eu vivo e como a gloria do Senhor encherá toda a terra,” o Profeta Isaias nos exorta no Cap. 48 vers. 11 “Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha gloria não a darei a outrem.” O propósito de toda a criação é para darmos gloria e louvor ao Senhor nosso DEUS, tudo foi criado para o seu louvor e adoração, Davi ao escrever o Salmo 19, verss. 1-3. Trouxe-nos a explanação deste louvor e desta adoração, não somente a nós, mas a tudo que o Senhor criou tudo o louva e Lhe adora:

“Os céus declaram a gloria de DEUS e o firmamento anuncia a obra de suas mãos.
Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite.
Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. ”[2]

Todas as coisas foram feitas para a sua própria adoração e somos nós suas criaturas e pertencemos a Ele por isso adoremos o DEUS perfeito.

III – Sua Obra.

A analise de sua obra nos requer mais que compreensão ao texto mais também a iluminação do Espírito Santo, pois ao analisarmos do ponto de vista onde nos situamos devemos no primeiro plano observar que o pecado ainda não havia entrado no mundo criado pelo Senhor, pois após a queda do homem os tempos são contados diferentes, sem querer entrar no estudo dos dias, se os mesmos fazem referencias a eras ou a dias prolongados conforme alguns teólogos buscam estes entendimentos, não entraremos sobre estes aspectos, mas que se houve em alguma data um dia da criação e ela foi progressiva no momento em que DEUS a fez em 6 (seis) dias, pela sua própria vontade, poderia ter sido em 01 (um) dia, não questionamos o modo em que se foi Criado, mas que foi criado pelo SENHOR nosso DEUS, a sua criação, segundo o teólogo Charles Hodge esquematiza em duas eras: a Era Inorgânica e a Era Orgânica. A Era Inorgânica ela vai do inicio até o surgimento de vida orgânica, e após temos a Era Orgânica:

A – Era Inorgânica:

· 1° Dia – A Luz Cósmica;
· 2° Dia – A divisão das águas debaixo das águas acima da terra
· 3° Dia - 1 – Delineamento da terra e água;
2 – Criação da vegetação.

B – Era Orgânica:

· 4° Dia – Luz do sol;
· 5° Dia – Criação da ordem inferior de animais;
· 6° Dia – 1 – Criação dos animais;
2 – Criação do homem.

Nesta seqüência, temos o entendimento do propósito do Senhor, ao criar do nada todas as coisas, criando em primeiro lugar a luz cósmica e fazendo separação entre os céus e as águas, as águas de baixo fez surgir a terra, os continentes, os paises a terra de modo geral, da Terra então cria os vegetais, não houve para realizar esta criação, qualquer material a ser utilizado.
Ao passarmos para a Era Orgânica DEUS já utiliza um material secundário o barro, criado no 2° dia utilizando o mesmo material para criar os animais e o homem, diferenciando somente que o homem tem a imagem e a semelhança de DEUS, e concede ao homem o direito de dominar, governar sobre as outras animálias, sobre toda a Terra, deu o Senhor nosso DEUS a Terra ao homem, para governar podendo para tanto dar nome aos animais. O homem passa a uma posição diferenciada perante o Senhor, uma posição de destaque sendo a coroa da criação do Senhor.


Conclusão.

O Senhor é poderoso, amável, tenro, benevolente, generoso e nos deu todo este Mundo para que possamos viver nele e o adora-Lo, DEUS é fiel e somos gratos pela sua obra criadora e também ter-nos redimidos dos nossos pecados.

Ao Senhor Nosso DEUS, toda honra, toda Gloria e todo louvor,
Por intermédio de seu filho Jesus Cristo, Amem.



Referencias Bibliográficas:

Hodge, Charles. TEOLOGIA SISTEMÁTICA. São Paulo, Hagnos, 2001.

Geisler, Norman. Turek, Frank. NÃO TENHO FÉ SUFICIENTE PARA SER ATEU. São Paulo, Editora Vida, 2006.
[1]
Especialista em Planejamento Tributário e Auditoria Contábil pela CEDES/UVV/ES; Bel. em Ciências Contábeis pela FACEC/ES; Bel. Em Teologia pelo IBADES/ES convalidado pela FATIN/PE; Acadêmico em Direito pela UVV/ES, Dirigente da Congregação da Assembléia de Deus em Jardim Asteca, Ministério Aribiri.
[2] Bíblia de Estudo Profética Tim LaHaye, ED. HAGNOS, São Paulo, 2005 – Versão Almeida Corrigida Fiel (ACF).

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Estará ele Certo? ou não foi a intenção de Charles Finney

Adoradores ou Consumidores?
O Outro Lado da Herança de Charles G. Finney
Augustus Nicodemus Lopes

A palavra "evangélicos" tem se tornado tão inclusiva que corre o perigo de se tornar totalmente vazia de significado — R. C. Sproul Em certa ocasião o Senhor Jesus teve de fazer uma escolha entre ter 5 mil pessoas que o seguiam por causa dos benefícios que poderiam obter dele, ou ter doze seguidores leais, que o seguiam pelo motivo certo (e mesmo assim, um deles o traiu). Em outras palavras, uma decisão entre muitos consumidores e poucos fiéis discípulos. Refiro-me ao evento da multiplicação dos pães narrado em João 6. Lemos que a multidão, extasiada com o milagre, quis proclamar Jesus como rei, mas ele recusou-se (João 6.15). No dia seguinte, Jesus também se recusa a fazer mais milagres diante da multidão pois percebe que o estão seguindo por causa dos pães que comeram (6.26,30). Sua palavra acerca do pão da vida afugenta quase que todos da multidão (6.60,66), à exceção dos doze discípulos, que afirmam segui-lo por saber que ele é o Salvador, o que tem as palavras devida eterna (6.67-69). O Senhor Jesus poderia ter satisfeito às necessidades da multidão e saciado o desejo dela de ter mais milagres, sinais e pão. Teria sido feito rei, e teria o povo ao seu lado. Mas o Senhor preferiu ter um punhado de pessoas que o seguiam pelos motivos certos, a ter uma vasta multidão que o fazia pelos motivos errados. Preferiu discípulos a consumidores.
Infelizmente, parece prevalecer em nossos dias uma mentalidade entre os evangélicos bem semelhante à da multidão nos dias de Jesus. Parece-nos que muitos, à semelhança da sociedade em que vivemos, tem uma mentalidade de consumidores quando se trata das coisas do Reino de Deus. O consumismo característico da nossa época parece ter achado a porta da igreja evangélica, tem entrado com toda a força, e para ficar. Por consumismo quero dizer o impulso de satisfazer as necessidades, reais ou não, pelo uso de bens ou serviços prestados por outrem. No consumismo, as necessidades pessoais são o centro; e a "escolha" das pessoas, o mais respeitado de seus direitos. Tudo gira em torno da pessoa, e tudo existe para satisfazer as suas necessidades. As coisas ganham importância, validade e relevância à medida em que são capazes de atender estas necessidades. Esta mentalidade tem permeado, em grande medida, as programações das igrejas, a forma e o conteúdo das pregações, a escolha das músicas, o tipo de liturgia, e as estratégias para crescimento de comunidades locais. Tudo é feito com o objetivo de satisfazer as necessidades emocionais, psicológicas, físicas e materiais das pessoas. E neste afã, prevalece o fim sobre os meios. Métodos são justificados à medida em que se prestam para atrair mais freqüentadores, e torná-los mais felizes, mais alegres, mais satisfeitos, e dispostos a continuar a freqüentar as igrejas. Esta mentalidade consumista por parte de evangélicos se mostra por vários ângulos. Numa pesquisa recente feita pelo instituto Gallup nos Estados Unidos constatou-se que quatro a cada 10 americanos estão envolvidos em pequenos grupos que se reúnem semanalmente buscando saída para o envolvimento com drogas, problemas familiares, solidão e isolacionismo. Embora evidentemente muitos estarão em busca de uma oportunidade para aprofundar a experiência cristã e crescer no conhecimento de Deus, a maioria, segundo Gallup, busca satisfazer suas necessidades pessoais. De acordo com a revista Newsweek, um a cada cinco americanos sofre de alguma forma de doença mental (incluindo ansiedade, depressão clínica, esquizofrenia, etc.) durante o curso de um ano. E disso se aproveitam os espertos. Uma denúncia contra a indústria evangélica de saúde mental foi feita ano passado por Steve Rabey em Christianity Today. Cada vez mais cresce o marketing nas igrejas na área de aconselhamento, com um número alarmante de profissionais cristãos oferecendo ajuda psicológica através de métodos seculares. A indústria de música cristã tem crescido assustadoramente, abandonando por vezes seu propósito inicial de difundir o Evangelho, e tornando-se cada vez mais um mercado rentável como outro qualquer. A maioria das gravadoras evangélicas nos Estados Unidos pertence à corporações seculares de entretenimento. As estrelas do gospel music cobram cachês altíssimos para suas apresentações. Num recente artigo em Strategies for Today’s Leader, Gary McIntosh defende abertamente que "o negócio das igrejas é servir ao povo". Ele defende que a igreja deve ter uma mentalidade voltada para o "cliente", e traçar seus planos e estratégias visando suas necessidades básicas, e especialmente faze-los sentir-se bem. Um efeito da mentalidade consumista das igrejas é o que tem sido chamado de "a síndrome da porta de vai-e-vem". As igrejas estão repletas de pessoas buscando sentido para a vida, alívio para suas ansiedades e preocupações. Assim, elas escolhem igrejas como escolhem refrigerantes. Tão logo a igreja que freqüentam deixa de satisfazer as suas necessidades, elas saem pela porta tão facilmente quanto entraram. As pessoas buscam igrejas onde se sintam confortáveis, e se esquecem de que precisam na verdade de uma igreja que as faça crescer em Cristo e no amor para com os outros. Creio que há vários fatores que provocaram a presente situação. Ao meu ver, um dos mais decisivos é a influência da teologia e dos métodos de Charles G. Finney no evangelicalismo moderno. Houve uma profunda mudança no conceito de evangelização ocorrida no século passado, devido ao trabalho de Charles Finney. Mais do que a teologia do próprio Karl Barth, a teologia e os métodos de Finney têm moldado o moderno evangelicalismo. Ele é o herói de Jerry Falwell, Bill Bright e de Billy Graham; é o celebrado campeão de Keith Green, do movimento de sinais e prodígios, do movimento neopentecostal, e do movimento de crescimento da igreja. Michael Horton afirma que grande parte das dificuldades que a igreja evangélica moderna passa é devida à influência de Finney, particularmente de alguns dos seus desvios teológicos: "Para demonstrar o débito do evangelicalismo moderno a Finney, devemos observar em primeiro lugar os desvios teológicos de Finney Estes desvios fizeram de Finney o pai dos fatores antecedentes aos grandes desafios dentro da própria igreja evangélica hoje: o movimento de crescimento de igrejas, o neopentecostalismo, e o reavivalismo político". Para muitos no Brasil seria uma surpresa tomar conhecimento do pensamento teológico de Finney. Ele é tido como um dos grandes evangelistas da Igreja Cristã, e estimado e venerado por evangélicos no Brasil como modelo de fé e vida. E não poderia ser diferente, visto que se tem publicado no Brasil apenas obras que exaltam Finney. Desconheço qualquer obra em português que apresente o outro lado. Meu alvo, neste artigo, não é escrever extensamente sobre o assunto, mas mostrar a relação de causa e efeito que existe entre o ensino e métodos de Finney e a mentalidade consumista dos evangélicos hoje. Em sua obra sobre teologia sistemática (Systematic Theology [Bethany, 1976]), escrita pelo fim de seu ministério, quando era professor do seminário de Oberlin, Finney revela ter abraçado ensinos estranhos ao Cristianismo histórico. Ele ensina que a perfeição moral é condição para justificação, e que ninguém poderá ser justificado de seus pecados enquanto tiver pecado em si (p. 57); afirma que o verdadeiro cristão perde sua justificação (e conseqüentemente, a salvação) toda vez que peca (p. 46); demonstra que não acredita em pecado original e nem na depravação inerente ao ser humano (p. 179); afirma que o homem é perfeitamente capaz de aceitar por si mesmo, sem a ajuda do Espírito Santo, a oferta do Evangelho. Mais surpreendente ainda, Finney nega que Cristo morreu para pagar os pecados de alguém; ele havia morrido com um propósito, o de reafirmar o governo moral de Deus, e nos dar o exemplo de como agradar a Deus (pp. 206-217). Finney nega ainda, de forma veemente, a imputação dos méritos de Cristo ao pecador, e rejeita a idéia da justificação com base da obra de Cristo em lugar dos pecadores (pp. 320-333). Quanto à aplicação da redenção, Finney nega a idéia de que o novo nascimento é um milagre operado sobrenaturalmente por Deus na alma humana. Para ele, "regeneração consiste no pecador mudar sua escolha última, sua intenção e suas preferência; ou ainda, mudar do egoísmo para o amor e a benevolência", e tudo isto movido pela influência moral do exemplo de Cristo ao morrer na cruz (p. 224).
Finney, reagindo contra a influência calvinista que predominava no Grande Avivamento ocorrido na Nova Inglaterra do século passado, mudou a ênfase que havia à pregação doutrinária para uma ênfase à fazer com que as pessoas "tomassem uma decisão", ou que fizessem uma escolha. No prefácio da sua Systematic Theology ele declara a base da sua metodologia: "Um reavivamento não é um milagre ou não depende de um milagre, em qualquer sentido. É meramente o resultado filosófico da aplicação correta dos métodos." Finney não estava descobrindo uma nova verdade, mas abraçando um erro antigo, defendido por Pelágio no século IV, e condenado como herético pela Igreja, ou seja, que nenhum de nós nasce pecador; o homem, por nascimento, é neutro, e capaz de fazer escolhas para o bem e para o mal com inteira liberdade. Finney tem sido corretamente descrito por estudiosos evangélicos como sendo semi-pelagiano (ou mesmo, pelagiano) em sua doutrina, e um dos responsáveis maiores pela disseminação deste erro antigo entre as igrejas modernas. Na teologia de Finney, Deus não é soberano, o homem não é um pecador por natureza, a expiação de Cristo não é um pagamento válido pelo pecado, a doutrina da justificação pela imputação é insultante à razão e à moralidade, o novo nascimento é produzido simplesmente por técnicas bem sucedidas, e avivamento é o resultado de campanhas bem planejadas com os métodos corretos. Antes de Finney, os evangelistas reformados aguardavam sinais ou evidências da operação do Espírito Santo nos pecadores, trazendo-os debaixo de convicção de pecado, para então guiá-los à Cristo. Não colocavam pressão sobre a vontade dos pecadores, por meio psicológicos, com receio de produzir falsas conversões. Finney, porém, seguiu caminho oposto, e seu caminho prevaleceu. Já que acreditava na capacidade inerente da vontade humana de tomar decisões espirituais quando o desejasse, suas campanhas de evangelismo e de reavivamento passaram a girar em torno de um simples propósito: levar os pecadores a fazer uma escolha imediata de seguir a Cristo. Com isto, introduziu novos métodos nos seus cultos, como o "banco dos ansiosos" (de onde veio a prática de se fazer apelos ao final da mensagem), o uso de qualquer medidas que provocassem um estado emocional propício ao pecador para escolher a Deus, o que incluía apelos emocionais e denúncias terríveis do pecado e do juízo. O impacto dos métodos reavivalistas de Finney no evangelicalismo moderno são tremendos. Seus sucessores têm perpetuado estes métodos e mantido as características do fundador: o apelo por decisões imediatas, baseadas na vontade humana; o estímulo das emoções como alvo do culto; o desprezo pela doutrina; e a ênfase que se dá na pregação a se fazer uma escolha, em vez da ênfase às grandes doutrinas da graça. As igrejas evangélicas de hoje, influenciadas pela teologia e pelos métodos de Finney, acreditando que reavivamentos podem ser produzidos, e que pecadores podem decidir seguir a Cristo quando o desejarem, têm adotado táticas e práticas em que as pessoas são vistas como clientes, e que promovem a mentalidade consumista nas igrejas evangélicas.
A relação entre os métodos de Finney e o espírito consumista moderno foi corretamente notado por Rodney Clapp, em recente artigo na Christianity Today (Outubro de 1966): "Ao enfatizar a importância de se tomar uma decisão para Cristo, Charles Finney e outros reavivalistas ajudaram na sacramentalização da ‘escolha’, elemento chave do consumismo capitalista de hoje. O reavivalismo [de Finney] encorajava sentimentos de êxtase e a abertura do indivíduo para mudanças costumeiras de conversão e reconversão" (p. 22). O Senhor Jesus preferiu doze seguidores genuínos a ter uma multidão de consumidores. Creio que a igreja evangélica brasileira precisa seguir a Cristo também aqui. É preciso que reconheçamos que as tendências modernas em alguns quartéis evangélicos é a de produzir consumidores, muito mais que reais discípulos de Cristo, pela forma de culto, liturgias, atrações, e eventos que promovem. Um retorno às antigas doutrinas da graça, pregadas pelos apóstolos e pelos reformadores, enfatizando a busca da glória de Deus como alvo maior do homem, poderá melhorar esse estado de coisas.
Rev.
Augusto Nicodemos Lopes (Igreja Presbiteriana do Brasil)